Arranque o preconceito, cultive seus pelos.
Fala a verdade, é super nojento, né? Dá vontade de morrer quando vemos alguém assim. Realmente, gente preconceituosa me dá ânsia de vomito. Bom, talvez pelo título do texto você tenha pensado que eu estava me referindo a pessoas peludas, particularmente mulheres, mas não: eu não tenho nojo deles, e você também não deveria ter.


História Cabeluda.
Muita gente considera a depilação algo atual, do século passado ou até mesmo mais recente, mas segundo alguns historiadores, os primeiros registros de depilação surgiram muito, mas muito antigamente.
 A primeira técnica de depilação que se ouve falar vem da Grécia Antiga, a 2000 anos antes de cristo. Se você acha que a cera quente é a pior coisa que já inventaram pra arrancar os pelos, nem imagina o que as mulheres gregas faziam: elas usavam as próprias mãos para arrancar os pelos, ou os queimavam com cinzas quentes sobre a pele. Para suportar a dor, tomavam uma espécie de anestésico. Pouco depois, em 1500 a.C. foi inventado um delicioso depilador, feito de gordura de hipopótamo, carcaça de tartaruga, trissulfeto de antimônio e sangue de diversos animais. Gostoso, né? Após isso, os gregos inventaram o Estrigil, uma varinha que media cerca de 30 centímetros e tinha a ponta bem curva. Como “creme de barbear”, as gregas usavam uma pasta de cinza e argila. No Egito antigo, era feita uma mistura de sândalo, argila e mel, o que deu origem a famosa cera depilatória (Cera egípcia). As muçulmanas, por sua vez, depilavam o corpo todo com uma mistura de açúcar e polpa de limão. Os romanos, conhecidos por sua força e coragem, faziam jus a isso e, segundo registros, alguns de seus “cremes” continham soda cáustica na composição.
Na idade média, a depilação passou a ser condenada e tratada como heresia ou bruxaria, assim como qualquer ato considerado “sem pudor”. Naquela época, até mesmo tomar banho era considerado pecado.  Argh! 
No Brasil, registros escritos (vide a carta de Pero Vaz de Caminha) mostram que as índias não mantinham pelos pubianos. Por muito tempo acreditou-se que elas nasciam assim, sem pelos, mas fora descoberto que as índias utilizavam espinhas de peixe para depilar. 


Pelos são nojentos? Só se você não tomar banho.
A ideia de que pelos são anti-higiênicos, nojentos e que mulheres devem estar sempre lisinhas não surgiu do nada. Como muitas outras questões no mundo, os pelos tratados dessa forma foram uma estratégia de marketing que, querendo ou não, deu muito certo.
Até o ano de 1915, os pelos na axila eram aceitos na sociedade e considerados totalmente normais. Eis que nesse ano, surgiu uma nova moda: vestidos sem manga, que deixavam toda a extensão dos braços e axilas a mostra. As revistas de moda então decretaram que para o look ficar mais elegante, era necessário que as mulheres depilassem as axilas. Os publicitários se aproveitaram e os produtos higiênicos gritaram para todo o lado o quão nojento era manter os pelos. Durante o século XX, deixar os pelos embaixo do braço era visto com repúdio. Na década de 40, conforme os vestidos iam se encurtando, as pernas e braços se tornaram alvos das lâminas e ceras.
Pelos são naturais, isso é fato. O que muita gente não sabe é que eles servem para proteger nosso corpo de sujeirinhas que possam entrar em contato com nossa pele e causar grandes problemas. Ou seja, não faz sentido dizer que mulheres que mantêm seus pelos são sujas. Olhe a sua volta: é bem provável que todos os homens que você conheça, ou pelo menos a maioria, tenha pelos no corpo. É comum ver por aí homens peludos julgando mulheres que optaram por não se depilar. Então qual seria a razão para alegar que apenas as mulheres são nojentas quando não se depilam? 



Machismo, saia desse corpo que não te pertence!
Hoje em dia, muito se houve falar sobre machismo, feminismo, opressão, entre tantos outros termos que muitos não sabem o significado. Para entender melhor tudo isso e compreender o que diabos os pelos tem a ver com essa conversa, precisamos entender o que cada uma dessas coisas significa. Bom, se pararmos pra pensar, não é muito difícil associar todas essas coisas:


Machismo: O machismo prega a ideia de que o homem é superior a mulher.
Feminismo: A luta pelo emponderamento e equidade das mulheres.
Opressão: Ação ou efeito de oprimir; estado do que se encontra oprimido. Jugo; tirania; ação de fazer violência por abuso de autoridade.Humilhação.
Na sociedade onde vivemos, o homem é opressor da mulher, afinal, este possui privilégios que nós não temos. Ganham maiores salários, estão em maior número na política, não são sexualmente oprimidos e, finalmente, não são forçados a se adequarem a um padrão de beleza – padrão este cada vez mais impossível de alcançar.
Muita gente diz que a depilação é questão de gosto, mas nunca parou pra pensar quem os influenciou a gostar disso. Todo dia na televisão ou até mesmo nas ruas, somos bombardeados por propagandas nos dizendo que pelos são abomináveis – a não ser que você seja homem, aí tudo ok. Criamos essa ideia de que pelos são feios, nojentos e anti-higiênicos devido à falta de informação, ou pior, as informações errôneas a quais temos acesso todos os dias.
Os pelos possuem papéis diferentes na sociedade patriarcal: Nós, mulheres, devemos depilar as axilas, as pernas, a virilha, as partes íntimas, arrumar a sobrancelha senão não seremos consideradas “femininas”. Já os homens, se arrancam um mísero pelo do corpo são atacados com xingamentos homofóbicos. Um exemplo disso? Existem centenas de páginas no Facebook pregando “Faça amor, não faça a barba!”. Agora me diz: você já viu alguma página de sucesso dizendo “Faça amor, não faça o buço”? Pois é. 
Mas voltando a questão do machismo x feminismo: O machismo nos diz que o homem é superior, ou seja, que ele pode e tem direito de fazer coisas que nós mulheres não podemos. Já o movimento feminista prega que nós, mulheres, podemos fazer o que quisermos com nossos corpos e que a mulher possui a liberdade para fazer escolhas. Afinal, a essência do feminismo é isso: emponderar e libertar a mulher. Fazer com que ela retire as correntes do patriarcado e decida o que fazer com sua vida, com seu corpo, com seus pelos. Quer depilar? Tudo bem, contanto que você saiba o porquê disso. Não quer? Tudo bem também! 
Quer começar a se inspirar? Confira o projeto “Pelos pelos” realizado pelo Coletivo Além. Segundo os organizadores do projeto “É necessário pensar por que (os pelos) são geradores de tanto asco e por que nos mutilamos frequentemente para nos livrarmos deles. Compreendemos que vivemos em uma sociedade permeada por um machismo que corrói nossas relações e comportamentos, que define opressão cruel às mulheres.” 


E não se esqueça, nem por um segundo:
Você é livre.
Ninguém pode mandar em seu corpo.
Nem Estado, nem igreja, nem patrão, nem mídia.


“Eu sou minha, só minha, e não de quem quiser.” (Cassia Eller)


Acadêmica: Ana Luisa Hickmann – Um projeto pela liberdade feminina.




*Os textos e trabalhos aqui expostos não expressam a opinião da instituição.

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